Artigo publicado na Revista da MIT-Sp, 2015.
"Vaidade de vaidades,
disse o Eclesiastes, vaidade de vaidades! Tudo é vaidade.
Que proveito tira o homem, de
todo o trabalho, com que se fadiga debaixo do sol?
Uma geração passa, e outra
geração lhe sucede; mas a terra para sempre permanece.
O sol nasce e põe-se, e volta
ao lugar de onde nasceu e, renascendo aí, dirige o seu giro para o
meio dia, e depois declina para o norte; o vento corre, vai para o
sul, e faz o seu giro para o norte; continuamente vai girando o
vento, e volta fazendo os seus circuitos.
Todos os rios correm para o
mar, e o mar nem por isso transborda; os rios voltam ao mesmo lugar
donde saíram, para tornarem a correr."
(Livro do Eclesiastes, 1)
Vaidade de vaidades, disse o Eclesiastes, vaidade
de vaidades! Tudo é vaidade.
Haveria substantivo melhor para designar o motor do "ser ator"?
Muito já se comentou acerca das habilidades e competências desse
profissional da exibição. Seu ofício pressupõe um esforço de
alteridade, em que, quanto mais eu afirmo o outro, exponho eu mesmo,
quem eu sou, egocêntrico e egoísta, às vezes...
Segundo o historiador holandês, Johan Huizinga, autor de Homo
Ludens, "si alguien fuesse capaz de escribir la historia de
la vanidad, habría dominado con ello la mitad de la Historia de la
cultura" (HUIZINGA: 1994, 69). E talvez quem escrevesse uma
história do ator, ao menos no ocidente, se depararia com esse pecado
capital, confundido, ao menos em relação aos atores, com uma
virtude.
É necessária essa qualidade aos artistas?
As imagens sobre a vaidade em relação aos atores vão longe e podem
ser extraídas, daqui e dali, das biografias, tanto dos ilustres
desconhecidos, quanto dos mais célebres dos artistas, como tão bem
já nos contava Sunset Boulevard ou Crepúsculo dos deuses,
de
Billy Wilder, em 1950.
Vitorio Gassman, ator italiano que não foi ao longo de sua carreira
nenhum prodígio de humildade, definia o comportamento do ator como
sendo uma espécie de síntese, um ser intermediário, dizia ele,
entre um sacerdote e uma prostituta. Dois outros papéis sociais
entre os mais dramaticamente vaidosos na exposição de suas
mercadorias.
Como nos lembram as palavras do Eclesiastes, a vaidade nunca
saiu de moda. Isso seria um pleonasmo ao tempo de uma sociedade
globalizada, líquida, rizomática, sem bordas nem fronteiras com a
facilidade do acesso às tecnologias comunicacionais: smartphones,
tablets, computadores, e tantos outros equipamentos do mundo
digital, com seus aplicativos, que não param de nos ofuscar. Eles
são verdadeiros espelhos digitais, que ao integrarem as redes
sociais constroem um mosaico de rostos anônimos e vaidosos, cujo
único desejo, por sua vez, é ser reconhecido. Esse espelho
tecnológico faz com que cada um clame com maior ou menor dose de
verdadeira ou falsa modéstia: "estou aqui!", "olhe
para mim!", "veja o meu Face!" "Quer ser
meu amigo?".
Nessa interface se coloca o conflito entre o desejo de se representar
uma imagem do Eu e a real possibilidade de contato, ainda que
virtual, deste mesmo Eu com o Outro, quando a vaidosa cacofonia não
impera na rede. Quantas vezes, você e eu, não ficamos presos nessa
sala de espelhos virtuais sem encontrar a saída? E haveria saída?
Assim, não teríamos melhor denominação para o trabalho de um
coletivo contemporâneo de atores jovens. Aí está ela a nos rondar,
a nos inspirar... e a eles, no intuito de tratá-la e ao mesmo tempo
denunciá-la, essa maldita vaidade, a minha, a sua, a deles
mesmos, a nossa, enfim.
Que proveito tira o homem, de todo o trabalho, com
que se fadiga debaixo do sol?
No passado houve uma pintura, um gênero particular de natureza
morta, denominado de Vanitas. Muito desenvolvida no Barroco,
nas telas desse subgenero de natureza morta, os pintores nos
apresentam crânios, esqueletos, corpos, frutas ou plantas em
decomposição. A mensagem que interessava a esses pintores, ou a
reflexão que esse tipo de pintura propunha ao espectador era que o
seu visitante meditasse sobre a condição passageira da sua vida, a
brevidade do tempo e a inexorabilidade da morte, para qual todos
caminhamos. Nesse mesmo sentido, há igualmente a expressão latina
memento mori que significa algo como lembre-se de que você
vai morrer ou de que você é mortal. A expressão estaria assim
associada a um tema pictórico em cuja cena pode-se apreciar um
personagem, normalmente um jovem que, em meio a uma ação
representando alguns dos prazeres da vida, era surpreendido por Ela,
pronta a cortar-lhe o fio da vida. Pode-se estimar que uma das
funções da arte também é a de nos lembrar da nossa condição de
mortais diante da proveitosa e deleitosa vida. Não seria um pouco
disso que La Maldita Vanidad nos oferece em seus espetáculos?
Uma geração passa, e outra geração lhe sucede;
mas a terra para sempre permanece.
Assim também se dá com a arte em geral e o teatro em particular,
metáfora viva da vida. Assim se dá em relação às gerações de
agentes e grupos de agentes criativos que ao se renovarem, criam suas
linguagens, imprimem suas estéticas na bolsa de valores artísticos,
ressignificando questões, rompendo com padrões e estabelecendo
novas relações no fazer artístico.
No caso colombiano, pode-se lembrar uma trajetória significativa,
desde o grupo fundado por Enrique Buenaventura, El Teatro
Experimental de Cali (TEC) na década de 1960, trabalho que gerou
uma nova dramaturgia ao, igualmente, difundir as ideias de
Stanislavski e Brecht; passando pela La Candelaria, grupo
fundado por Santiago Garcia em 1972, que se tornou uma das
referências do dito teatro independente realizado no país e desde
então alimentou seus processos criativos investigando as relações
sociais com cuidado histórico, acompanhado por uma equipe composta
por profissionais de diferentes áreas. Chegando-se aí ao grupo Mapa
Teatro, fundado em 1984,
em Paris, mas residente em Bogotá e que se autodenomina um
"laboratório de imaginação social". Trabalhando com uma
dramaturgia contemporânea ou relendo os clássicos, esse grupo
problematiza em cena as relações entre a performance e a
representação, detendo-se nesses últimos tempos sobre o que ele
designa, conforme pode-se ler no seu site, uma "produção
de acontecimentos artísticos entre micro-política e poética
através da construção de etno-ficções e a criação efêmera de
comunidades experimentais."
Nessa trajetória incluem-se o frescor e a inquietação que conduzem
os trabalhos do grupo de artistas de La Maldita Vanidad,
um expoente da geração teatral colombiana mais nova. Graças ao seu
talento e à globalização, eles já alcançaram circulação e
reconhecimentos nacional e internacional, dentro do contexto de um
teatro de linguagem pouco convencional.
Consultando-se o site do grupo, pode-se perceber que seus
integrantes são egressos da famosa geração "y". Uma
geração multitask. Uma geração cuja inteligência criativa
está associada à síntese de habilidades que conferem novos padrões
de produção em relação ao trabalho teatral exercido no plano
coletivo.
O sol nasce e põe-se, e volta ao lugar de onde
nasceu e, renascendo aí, dirige o seu giro para o meio dia, e depois
declina para o norte; o vento corre, vai para o sul, e faz o seu giro
para o norte; continuamente vai girando o vento, e volta fazendo os
seus circuitos.
Todos os rios correm para o mar, e o mar nem por
isso transborda; os rios voltam ao mesmo lugar donde saíram, para
tornarem a correr.
Na história do espetáculo teatral ocidental, artistas e críticos
não se cansam de anunciar que o teatro está em crise, à beira da
morte. Crise por conta da competição desenfreada entre o teatro e a
indústria cultural, mormente com o cinema e a televisão. Crise em
relação ao verbo e ao movimento. Dúvidas acerca do emprego da
palavra e do gesto. Incertezas, enfim, sobre a maneira de como se
exibir em cena, se interpretando, se representando, se atuando, ou
estimando, estar em si mesmo, em nome do outro. Imprecisão sobre a
escolha do melhor lugar de onde se ver, se dentro ou fora, se de
longe ou perto dependendo da matéria tratada pelo espetáculo.
O fato é que a realidade teatral possui a notável capacidade de nos
fazer ver as construções ideológicas do Real e as engrenagens do
Político no seio da Sociedade. É nesse sentido que corre o
interesse da operação de encenação do grupo La Maldita
Vanidad. Assim, valeria
lembrar uma reflexão sobre essa matéria feita por Bernard Dort, no
final do anos 1960. Discutindo sobre a pertinência do grande
repertório universal nos teatros ditos oficiais subsidiados pelo
governo, afirmava profeticamente: "em lugar de serem templos de
uma verdade histórica ou estética, nossos teatros, sob pena de se
esclerosarem, devem se transformar em laboratórios onde autores,
diretores, atores e espectadores possam livremente confrontar suas
experiências e suas representações da realidade" (DORT: 1977,
36). A atualidade do trabalho teatral latino americano é a resposta
a essa inquietação manifesta pelo teatrólogo francês há mais de
vinte anos. Essa realidade laboratorial, mencionada por Dort acerca
do trabalho teatral, é o que inúmeros grupos teatrais, a exemplo de
La Maldita Vanidad realizam hoje, com destaque para uma grande
parcela de grupos sociais reunidos pela força agregadora e
expressiva do teatro enquanto fenômeno cultural de sociabilidade
política, não por ser partidário, mas por manter a sua condição
de coisa pública.
*
La Maldita Vanidad é um grupo de agentes criativos dedicados
ao teatro independente, criado em 2009 por sete sócios fundadores,
encabeçado pelo diretor e autor Jorge Hugo Marín. Hoje, o grupo
está devidamente instalado na cidade de Bogotá, possuindo uma sede,
desde 2013 La Casa de la Maldita, no bairro de Palermo.
Formado em arte dramática pela Universidade de Antioquia, Marín
viajou em 2007 para Buenos Aires. Na capital argentina, teve contato
com o modo de trabalhar do teatro independente portenho, uma espécie
de setor teatral alternativo. Alternativo, aqui, ao sistema de
produção e criação, tanto em relação ao teatro oficial,
sustentado pelo estado, quanto ao teatro comercial associado ao
sucesso de bilheteria, condicionados por títulos de retorno seguro e
atores famosos. De regresso a Bogotá, o jovem diretor percebeu que
ao invés de esperar por convites ou pela sorte, deveria investir num
processo de auto-produção e realizar seus projetos com a
colaboração do coletivo de atores e colegas: Angélica Prieto,
Maíra Adelaida Palacio, Juan Manuel Lenis, Ella Becerra, Andrés
Estrada, Maíra Soledad Rodriguez. Com os meios de que dispunham
inaugurariam em 2009 o início de suas atividades, na sala de casa,
El autor intelectual.
Desde então La Maldita Vanidad criou as seguintes obras, cuja
dramaturgia e direção foram assinadas por Marín: Sobre algunos
assuntos de família é o título
da trilogia composta por: El autor intelectual (2009);
Los autores materiales (2010)
e Cómo quieres que te
quiera (2011).
Posteriormente
foram realizadas as obras: Morrir
de amor: segundo acto inevitable (2013);
Matando el tiempo: primer acto inevitable
(2013/14) e
Paisaje fracturado (2014).
A primeira vez que La Maldita visitou o Brasil foi em 2012,
onde participou do Festival de Palco e Rua de Belo Horizonte, FIT-BH
e logo, no mesmo ano, foi a Santos para o Mirada: Festival Ibero
Americano de Artes Cênicas e, posteriormente, para o Zona de
Transição, em Fortaleza, no 1o. Festival Internacional de Artes
Cênicas do Ceará.
A prática de trabalho do grupo se orienta pela observação e
apropriação de histórias do cotidiano colombiano, mais
precisamente bogotano, detendo-se sobretudo em temas e situações
advindos de núcleos familiares. "Me interessa olhar para o
núcleo da sociedade, que é a família. E aí dentro colocar esses
personagens em situações extremas. Contextos em que se pode
esquadrinhar o mais complexo do ser humano." (MENEZES: 2014).
Esses temas e situações são desenvolvidos pelos atores e pela
dramaturgia do autor e diretor Jorge Hugo Marín. As histórias são
ambientadas em espaços reais, relacionados à ação engendrada pela
dramaturgia que recicla essas mesmas narrativas. O espectador é
convidado a assistir essas situações na condição de voyeur,
como salienta a crítica de Luciana Eastwood, em relação aos
espetáculos apresentados no FIT-2012. "A encenação
hiper-realista oferece-se como um pacto de ilusão, pelo qual se
falseia o testemunho de um acontecimento da vida alheia. Eis o
paradoxo no qual o grupo envolve o público (…). No limite do
hiper-realismo, qualquer fissura pode desetabilizar o pacto"
(ROMAGNOLLI: 2012).
O voyerismo está associado à condição do espectador
imóvel, mergulhado na obscuridade do moderno teatro, afundado,
comodamente, em sua poltrona que retira o seu prazer da observação
da intimidade, que se desnuda à sua frente. Há portanto revelação
e prazer em sentir-se iludido pela realidade, especialmente
engendrada para esse fim pela operação da encenação teatral. Esse
pressuposto de prazer do espectador, associado ao ilusionismo e ao
desejo de ver revelada uma verdade que irrompe da lógica da cena,
são as condições para o estabelecimento das convenções surgidas
com o naturalismo.
Observemos as situações apresentadas por La Maldita.
Uma situação: Morrir de amor, segundo acto inevitable,
morir
Nesse espetáculo a situação de base do argumento é simples. Luis
Eduardo morreu e sua família, devido à sua precariedade econômica
se vê a improvisar um velório no meio da sala de casa. A família e
os amigos se reúnem em torno do morto para se despedirem. O jovem
acabara de morrer em circunstâncias imprecisas. A ignorância, a
evasão, a incomunicabilidade dentro do núcleo familiar, a
intolerância diante das diferenças, os tabus sobre o corpo e as
preferências sexuais, são comportamentos abordados por diferentes
situações. Numa palavra, padrões morais e religiosos são
colocados em questão.
Outra situação: Matando el tiempo, primer acto
inevitable: nacer
Desta vez a ação se dá no meio de um almoço de uma família
tradicional, cujo emprego do poder para dominar o povo é uma herança
disputada. A árvore genealógica demonstra que o menino que nasce
deve dar continuidade à tradição iniciada com o avô. Para tanto o
pequeno herdeiro deve ser preparado para essa função que perpetuará
esse mesmo poder.
Em ambas situações é clara a intenção de denúncia acerca da
realidade colombiana onde se exploram transações ilícitas, desvios
éticos, corrupção e violência, numa palavra a hipocrisia eivada
de vaidade. Do ponto de vista dos temas preferidos pelo autor e o
grupo de atores, destaca-se a família como uma espécie de
laboratório de onde afloram as questões essenciais a serem
exploradas.
Como resultado desse processo, pode-se perceber uma espécie de
síntese estética. Alguns trabalhos suscitaram comentários como o
de Valmir Santos que constata que "as peças do diretor e autor
Jorge Hugo Marín, de 31 anos, esfregam realismo e naturalismo de
precariedade aparente na interpretação, no desenho cenográfico. No
fundo, revelam conteúdos explosivos, estocadas na sociedade
colombiana radiografada com humor e sem piedade quanto à falsa
moral, seja ela cívica, religiosa ou familiar" (SANTOS: 2012).
Como estratégia narrativa, no que se refere à dramaturgia, a
crítica destaca o artifício de se fazer falar em cena sobre
personagens ausentes da ação. "Sin embargo, permanecen
elementos como el personaje ausente, que Marín planteó em El
autor intelectual (una madre enferma), Los autores materiales
(un arrendatario) y Cómo quieres que te quiera (un padre en
la cárcel). Aqui se
trata de un muerto, al que están velando, mientras su família y
amigos reconstruyen facetas de la vida, desconocidas por ellos."
(OQUEVEDO: 2013).
Essa textura de Real fabricada pela palavra e pela situação
dramática se torna mais intensa tendo em vista os locais escolhidos
para as apresentações, pois os espetáculos não acontecem em
teatros convencionais, mas em lugares específicos atinentes à ação.
Esses espaços estão impregnados da sua própria memória e
conseguem contribuir na síntese entre situação, jogo de ator e
lugar. É esse tipo de reflexão que nos leva a pensar em
procedimentos criativos e arranjos estético atinentes a uma
atualização de processos associados ao modelo de cena idealizada no
Naturalismo histórico.
O Romance Experimental e o Teatro Naturalista, ressignificados...
Essas duas formas narrativas, romance e teatro, devem ser percebidas
como um processo cuja coerência sobrevêm de distintos estímulos.
Dentre esses estímulos ressaltem-se as novas tecnologias do final de
século XIX e início de um novo século, como a eletricidade. No
plano teatral, assiste-se à consolidação do trabalho do moderno
diretor teatral. No âmbito das ideias, eclodem as Ciências Sociais
como campo do conhecimento. O contexto social advém de estados
republicanos sustentados pelo capital da burguesia comercial e
industrial que desfruta de um moderno sistema de transportes, que se
assemelha a uma revolução, as grandes ferrovias. O ritmo é o do
trem e não mais das carruagens.
Do ponto de vista conceitual, observa-se o adensamento do movimento
naturalista, graças às novas disciplinas, oriundas das ciências
sociais nascentes, a sociologia e a psicologia. Some-se a elas a
própria história que já norteara, como disciplina de base, grande
parte da produção romântica. A essas disciplinas que
instrumentalizam a pena do autor e o olhar, primeiro do ensaiador
dramático, e depois do moderno diretor teatral, aliaram-se as novas
técnicas de conhecimento e registro, agora em escala industrial, que
possibilitaram o surgimento de duas novas formas narrativas e
documentais até então desconhecidas, o cinema e a fotografia.
O Naturalismo sempre é entendido, no seu aspecto estético, como um
estilo ou período pouco poético, mormente se comparado ao
Simbolismo. É também acusado de ingenuidade por querer reproduzir o
real, emoldurado pelos limites da arte do palco. O trabalho de
pesquisa prévio, nesse gênero, é desenvolvido pelos agentes
criativos, mormente autor e moderno diretor teatral, visto que a
escrita dramática, cujo tema abordado pode advir até mesmo de um
fait divers, seria obra do autor, enquanto que a teatralidade
promovida pela cena seria da competência do moderno diretor. Em
certa medida, esse comportamento artístico, processual e
investigativo, é resultado do desejo de explicar, quando não de
problematizar as grandes causas motoras dos atos perpetrados pelos
personagens, sua natureza e o alcance das conseqüências destes atos
para sociedade. São assim enfatizados e trazidos à cena os
comportamentos desviantes ou, para empregar uma noção cara à
sociologia do teatro, comportamento anômicos.
O desejo de tornar pública a expressão de uma experiência é
também o exercício de uma técnica narrativa que vai cada vez mais
se aperfeiçoar com a narrativa cinematográfica. Pode-se observar
algumas relações ou desdobramentos do trabalho de La Maldita
que advém dessa inspiração cinematográfica. "De hecho la
primera obra que escribí, El autor intelectual, está
inspirada en la pelicula argentina Esperando la carroza,
basada en la obra de teatro del uruguayo Jacobo Langsner"
(SANABRIA: 2013). Ou ainda quando se percebe em relação à
construção da cena e seu ritmo que: "O processo de edição é
influenciado pelo cinema, ponto de partida para as duas peças: o
filme Esperando a carroça, do argentino Alejandro Doria,
serve a El autor intelectual assim como Festim diabólico,
do inglês Hitchcock, a Los autores materiales." (SANTOS:
2012).
Concluindo... no Eclesiastes pode-se ler ainda:
Todas as coisas são difíceis; o homem não as pode explicar
com palavras. O olho não se farta de ver nem o ouvido se cansa de
ouvir (sempre as mesmas coisas).
La Maldita Vanidad nos
sugere, portanto, que as situações quotidianas continuam a ser o
ambiente privilegiado para se construir, e se atualizar, um
diagnóstico do indivíduo e da sociedade contemporânea,
independentemente do espelho tecnológico ao qual se faça apelo.
REFERÊNCIAS
DORT, Bernard. O Teatro e sua realidade,
(trad. Fernando Peixoto). São Paulo: Perspectiva, 1977.
FERNANDEZ, Fernando. "Critica da peça de teatro Morir de
amor", in: Kien y Ke, mayo, 5, 2013. Online.
HUIZINGA, Johan. El concepto de la historia y outros ensayos,
(trad. Wenceslau Roces). Mexico: Fondo de Cultura Económica, 1994.
LIMA, Magela. "Sobre encontros (quase) impossíveis", in: O
Povo, 22 de junho de 2012. Online.
LLANO, Sara Malagón. "Matando el tiempo com vanidad", in:
El Espectador, 28, noviembre, 2013. Online.
MENEZES, Maria Eugênia de. "Grupos colombianos perscrutam a
violência". In: Teatro Jornal, 12 de abril de
2014. Online.
OQUEVEDO, Catalina. "Morir de amor, la nueva era de La Maldita
Vanidad", in: Elpiempo.com, 2 de abril de 2013.
Online.
ROMAGNOLLI, Luciana Eastwood. "Irresponsabilidades aos olhos do
voyeur". Critica de El autor intelectual e de Los
Autores Materiales, da Companhia La Maldita Vanidad. In: Questão
de Crítica, 31 de julho de 2012. Online.
SANABRIA, Jorge Hugo. "Jorge Hugo Marín y su compañia La
Maldita Vanidad", in: El Tiempo, 29,
noviembre, 2013. Online.
SANTOS, Valmir. "Bogotá / FIT-BH – La Maldita Vanidad",
in: Teatro Jornal, 26/06/2012. Online.
ZAMORA, Carlos Gil. "Violencias de autor", in: Artezblai,
23 outubro de 2013. Online.